Somos totalmente depravados, mas Deus nos chama à salvação. Tudo para a sua glória!
“Somos totalmente depravados”

Uma simples mordida em um fruto e pronto, o pecado entrou na humanidade (Gênesis 3). O homem, em geral, se tornou mal e condenável diante de Deus. Todos nós somos pecadores e fomos excluídos da glória de Deus (Romanos 3:23). A doutrina da depravação total nada mais é do que a afirmação dessa realidade desastrosa. Que somos totalmente depravados pelo pecado. Totalmente não significa que toda a imagem e semelhança de Deus em nós foi totalmente destruída e que nada de bom ou correto pode vir do nosso caráter. A graça comum de Deus age sobre toda a humanidade, distribuindo suas bênçãos e atributos conosco (Mateus 5:45), para que ainda exista algum bem entre nós. Satanás e o pecado não têm poder para apagar por completo a criação santa de Deus. Portanto, a depravação é total no sentido que todas as áreas da nossa vida foram afetadas pelo pecado. Não fazemos nada como realmente deveríamos fazer. Nunca acreditaríamos com todo nosso entendimento em Deus, nunca o temeríamos como deveríamos, nunca o louvaríamos com todo o coração, nunca seriamos santos como Ele é santo e nunca o obedeceríamos como sua palavra nos ensina.

Entender a depravação total e suas conseqüências é fundamental para entendermos a obra salvadora que Cristo faz por nós. A depravação nos tira o livre-arbítrio e nos leva a uma escravidão e a um destino certo, a morte (Romanos 6:23). Não podemos fazer o bem, pois fomos ensinados a fazer o mal (Jeremias 13:23). Paulo diz em Romanos 7:15-21 “Não entendo o que faço. Pois não faço o que desejo, mas o que odeio. E, se faço o que não desejo, admito que a lei é boa. Neste caso, não sou mais eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim. Sei que nada de bom habita em mim, isto é, em minha carne. Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo. Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo. Ora, se faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim. Assim, encontro esta lei que atua em mim: Quando quero fazer o bem, o mal está junto a mim. Não sei se você já percebeu, mas a conseqüência mais sombria e preocupante da depravação total é que assim como não temos o livre-arbítrio para escolhermos o bem, não o temos para escolhermos a Deus, nem para acreditarmos no sacrifício redentor de Cristo. Nunca teríamos uma fé real e salvadora em Cristo sozinhos, mas Deus decidiu agir em nosso lugar.Ufa!

“Deus nos chama a salvação”

Como vimos, nunca, em hipótese alguma, escolheríamos a Deus sozinhos. Estamos destinados a morte e isso não é culpa dEle, é nossa. Ao contrário do que muitos acreditam o primeiro passo da salvação não é nosso, pois não temos a capacidade de dá-lo. Gosto muito de um trecho das Crônicas de Nárnia, escrito por C. S. Lewis, em que Aslam diz para Jill: “Não teriam chamado por mim se eu não houvesse chamado por vocês.” (A Cadeira de Prata). A doutrina da eleição divina diz exatamente isso, que Deus nos escolheu para Ele antes mesmo da criação do mundo (Efésios 1:4). O primeiro passo da salvação é de Deus. Nós ainda nem existíamos, não havíamos feito nada, mas Deus já nos havia escolhido. Não por algo que faríamos ou deixaríamos de fazer, mas pela sua boa e soberana vontade (Efésios 1:5). O “antes da criação” deixa bem claro que Deus não usou nenhum critério em nós para tal escolha. Deus é o centro da eleição e da nossa salvação, Ele não se preocupou com nada fora de si mesmo. Por isso chamamos a eleição de incondicional.
Muitos argumentam sobre a presciência de Deus descrita em 1 Pedro 1:2, dizendo que Deus escolheu aqueles que Ele já sabia que no futuro iriam lhe escolher e crer em Jesus. Pura interpretação humanista! Se assim fosse, a salvação estaria em nossas mãos e Deus estaria limitado a agir de acordo com a minha decisão. A salvação seria mérito meu e não de Deus, mas isso não é o que a Bíblia ensina. A salvação vem do Senhor (Jonas 2:9) e a fé não vem de nós, é dom de Deus (Efésio 2:8)! Vejo a presciência de outra forma, onde Deus sempre soube que nós pecaríamos e precisaríamos de Cristo. Deus sempre soube o que faríamos e agiu com graça e misericórdia, predestinando alguns para Ele.

Outro termo que causa olhares tortos é a predestinação, onde todos os destinos de todos os homens estão sobre o eterno e soberano decreto de Deus. E se você me perguntar se eu acredito nisso; com todas as minhas forças! Ainda bem que Deus decidiu predestinar alguns para a vida quando o pecado levava todos para a morte. Deus predestinou, chamou, justificou e nos glorificou. Tudo obra dEle, e por isso nada pode nos acusar, condenar e nos separar do amor de Deus (Romanos 8:28-39)!

“Tudo para a glória de Deus”

A doutrina da eleição exalta a glória de Deus como o fim de todas as coisas, principalmente da salvação do homem. Deus sempre age para que Ele mesmo seja glorificado. A eleição é a fonte da verdadeira humildade e gratidão diante de Deus, onde nós pecadores percebemos que dependemos em tudo do nosso soberano criador. Vemos que nosso destino e salvação não estão em nossas mãos e agradecemos de todo o coração pela ação soberana de Deus. Pensar diferente não reflete de maneira total a glória de Deus e já é um sinal da nossa depravação. A eleição incondicional aponta e revela a gloriosa soberania de Deus. Esse é o principal benefício dessa doutrina, atribuir toda a glória da salvação a quem ela realmente pertence, apenas em Deus! Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém (Romanos 11:36)

Não poderia terminar esse assunto sem citar Calvino, um dos maiores teólogos, pregadores e defensores da glória de Deus da história:

“A bondade de Deus nunca será plenamente conhecida enquanto esta eleição não nos for exposta; e aprendermos que somos chamados neste tempo porque agradou a Deus estender-nos sua misericórdia antes de havermos nascidos.”

Amo essa doutrina.

Soli deo Gloria